É preciso que eu comece essa resenha confessando que me lancei de cabeça na obra Sem Volta, do cartunista norte-americano Charles Burns. Conhecendo pouco, ou melhor, quase nada, notei que eu já tinha me deparado com esse nome e com esse estilo de desenho em algum lugar, mas não sabia de onde. Fiquei martelando em minha cabeça de onde poderia conhecê-lo e, mesmo ainda sem respostas, me joguei de corpo e alma na leitura. Ah, se eu soubesse teria levado paraquedas.
A história começa com o jovem Doug acordando de um sonho (mas será que ele realmente acordou?) e indo atrás de seu gato. Uma série de coisas estranhas começam a acontecer: homens lagartos, ovos gigantes e um homem com fraldas – até parece que você usou drogas e elas estavam vencidas (não que eu saiba os efeitos) -, enfim, essas e outras coisas muito esquisitas acontecem e aí, finalmente, o personagem principal desperta de seu pesadelo (será que agora ele realmente acordou?).
O que sobra é um Doug tentando lidar com as lembranças de seu passado, que estão fragmentadas em fotografias polaroides, enquanto busca seguir adiante, mesmo com a doença de seu pai. Tudo isso regado por drogas e álcool na famosa cena punk dos Estados Unidos que você já deve conhecer.
A história vai desenvolvendo com o tempo e, cada vez mais, Burns desmonta e reconstrói a narrativa a cada pagina, ou seja, pouco a pouco vai se revelando do que se trata o tema. Agora que sei quem ele é (algumas páginas depois de uma rápida pesquisa no Google), percebo que o estilo de Burns é assim: com pistas e metáforas tão sutis que, quando você percebe, já está perto demais para se desviar.
O que acontece depois? Acaba virando um forte chute entre as pernas e será tarde demais para tentar voltar atrás e colocar o paraquedas. Sem Volta é uma demonstração honesta e dolorosa sobre um dos piores sentimentos que um ser humano pode carregar: a culpa. Quando você percebe, você está literalmente sem volta.
Resenhista: Lucas Gonçalves

Fonte: Companhia das Letras